A situação dos agricultores gaúchos que cultivam suas áreas predominantemente de sequeiro é lamentável. Foram quatro safras de frustração. 2021 e 2022 seca, 2023 chuvaradas e enchentes , 2024/25 seca horrível. Para se ter uma idéia do tamanho do problema vamos aos números. Considerando apenas a área de soja do município de São Pedro do Sul, aproximadamente 22 mil hectares. No mínimo 20 sacas por hectare por ano foram perdidas. São pelo menos 1.760.000 sacas não produzidas. Equivalente a mais de 200 milhões de reais que não entrou no caixa das empresas, ou seja das granjas e por consequência no comércio local, imagine a soma de todos os municípios gaúchos!
Este é um exercício com a soja, mas todas as culturas de sequeiro foram impactadas. Milho, feijão, mandioca, pastagens todas foram limitadas severamente pela crise hídrica enfrentada. Os custos de produção da soja são elevados. Se a soja produzir 50 sacas esse número não é o lucro. Sendo muito otimista sobra 10% para o agricultor.
Observando o último relatório do Conselho municipal de desenvolvimento econômico e ambiental (COMDEC), podemos ver claramente que a atividade menos impactada foi a pecuária de corte. Veja a resiliência dessa atividade. Mesmo enfrentando as mesmas adversidades climáticas o resultado foi menos afetado.
Sempre defendi essa atividade no campo e percebo muita oportunidade nos sistemas integrados, na rotação de culturas, na diversidade de renda dentro de cada granja.
Imagine se usássemos mais tecnolgia na pecuária? Tecnologia muitas vezes não quer dizer gastar mais, e sim fazer bom planejamento alimentar, saber manejar corretamente os pastos, ter uma estratégia amparada pela pesquisa.
Viver exclusivamente de soja é tarefa impossível atualmente, os números e os fatos comprovam isso. Ou dominamos os 365 dias sobre o hectare explorado ou esquece. Precisamos da safra da Integração lavoura pecuária durante o inverno e pelo menos 1/3 da área fazer pecuária intensiva sobre pastos perenes bem adubados e manejados. Isso permite a continuidade da lavoura e a melhoria da saúde do solo, da produtividade nas culturas e da renda nas granjas. Mas enquanto existir duas cabeças alheia ao assunto integrar é quase impossível. Proprietário de terra e arrendatário possuem cabeças diferentes e entendimento diferente. Uma cabeça só para transferirmos o conhecimento que já está pronto não tá sendo nada fácil.
A lavoura de soja clama por ajuda. Além da securitazação das dívidas que é extremamente necessária para sobrevivência dos agricultores e da economia estadual precisamos mais agronomia do que nunca para vencer tamanho desafio de se recuperar financeiramente, honrar os compromissos e crescer em produtividade para atender a demanda global por alimentos. Não esqueça que o Brasil é um dos principais celeiros mundiais e nele esta depositado a esperança de atendimento a esse crescimento na produção.
Dizer que na pecuária só tem flores estaria eu mirabolando. Estamos no ciclo de alta onde o gado está valorizado e daqui a pouco estará em baixa. É um ciclo. Cuidado com isso.
Além disso formar pastos no capricho envolve custos e lotar a área mais ainda. Portanto precisa investimento maior que a própria lavoura num primeiro momento. Outro gargalo enorme é o abigeato que nos assombra cada vez mais. Tecnologias como o instabov e câmeras já estão sendo usadas mas tem suas limitações de uso
Fica a dica!
Vamos a luta.
Vamos integrar para sair desse cenário. Deixe a santa entrar em cena, a santa forrage. Deus no comando.
Fernando Bassotto
Agrônomo
Detec Cooperagro
